Bem vindo a este espaço de troca e reflexão de ideias.

O QUE SENTIMOS PODE SER FALADO.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

ENTREVISTA: MASCULINO E FEMININO.

1- DIANTE DE UMA CULTURA QUE PRIORIZA A ESTÉTICA E O EXTERNO, OS CONCEITOS DE MASCULINO E FEMININO SÃO SUFICIENTES PARA A CONSTITUIÇÃO DA SUBJETIVIDADE CONTEMPORÂNEA?

Considero masculino e feminino como categorias culturais que servem para mediar instancias da vida psíquica com as da vida social (papeis). Definidas desta forma, estas categorias podem ser consideradas como operadores de cultura, cuja função é articular estados emocionais a visão de mundo vigente em determinado tempo da história. Os papéis definidos para homem e mulher são resultados deste processo. Podemos dizer que, masculino e feminino, instrumentalizam a visão de mundo em vigor e difundida pela cultura ocidental. Uma vez incorporadas pelos indivíduos como parâmetros para leitura e interpretação do mundo, se tornam suas identidades sociais. Todavia, nas sociedades míticas este processo não acontecia desta forma.
Houve um momento, mais precisamente no século XVII, no qual a verdade deixou de residir no ato descrito pelo discurso, passando a estar no que dizia: chegou o dia em que a verdade se deslocou do ato ritualizado, eficaz e justo, de enunciação, para o próprio enunciado, para seu sentido, sua forma, seu objeto, sua relação com sua referencia. Desta maneira, Baudrillard se refere à transição para as sociedades mecânicas, aquelas que ficaram conhecidas como sociedades hiper-reais e da simulação. Dito de outra maneira, sociedades que valorizam o externo, o que é superficial. Enrique Rojas, psiquiatra espanhol, diz que vivemos no tempo do homem light, nele o café não tem cafeína, o açúcar não tem glicose, a manteiga não tem colesterol e as pessoas não tem substância.

Para as sociedades míticas, masculino e feminino eram consideradas invenções que procuravam aproximar os seres humanos dos deuses, da representação de heróis, ou ainda histórias por meio das quais se sabia quem era homem e mulher. No final do século XX, eles passaram a ser considerados o destino artificial do corpo sexuado. Baudrillard nos chama atenção para o fato de que no contemporâneo, masculinidade e feminilidade são usadas para referir uma experiência em que o jogo de comutação dos signos dos sexos, que se opõe ao jogo de comutação anterior da diferença sexual presente nas narrativas míticas, se torna, na perspectiva dos dias de hoje, o jogo da não diferença sexual.

Desta maneira, a noção de identidade muda de registro, deixando de ser um campo de afirmação no jogo das diferenças para se transformar num campo de possibilidades mediadas pela tecnologia. Para tanto, este panorama criado pelas democracias de mercado determinou que as categorias em questão existem para garantir o estatuto de tais sociedades, mais do que servir como um recurso que dá suporte a imaginação na busca de soluções singulares. Assim sendo, será a partir delas que as individualidades serão determinadas e não o inverso. Para sociedades que valorizam o mercado e a economia há um esvaziamento das qualidades subjetivas enquanto o modo como cada qual experimenta a si mesmo. Por sua vez, masculino e feminino se transformaram em catalisadores dos processos econômicos de acordo com os quais as individualidades dos consumidores são determinadas. Á vida ficou atrelada e reduzida às operações mercadológicas, não existe vida sem elas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário