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quinta-feira, 2 de julho de 2009

Hillary não é a mulher de verdade! Obama o mensageiro qualificado.



Sócrates A. Nolasco (publicado no Valor Economico)

A acirrada disputa entre os candidatos democratas, Hillary e Obama, tem feito com que diferentes esforços sejam realizados para se saber o que mais agradará os eleitores. As agencias que cuidam das campanhas de ambos devem estar ávidas para saber como se constitui o “drive” do voto, ou seja, o que fará com que um eleitor escolha o seu novo presidente.
Como já foi dito, os candidatos à presidência dos EUA são franquias mais do que pessoas. Enquanto tais, representam muitos interesses que mesmo que sejam contrários, precisam estar bem articulados entre si. Negros e brancos, mulheres e homens, ricos e remediados, publico e privado são alguns dos segmentos que necessariamente tem de estar contemplados e devem se mostrar harmônicos nos discursos dos candidatos.
A disputa dentro do partido democrata trás dois representantes das chamadas Minorias. Um negro e uma mulher. No imaginário daquele país, encontramos a figura do herói construída sobre a idéia de que um cidadão comum ouvirá um chamamento e deverá realizar uma missão que nele contém. O resultado de sua empreitada beneficiará a todos.

As HQ e o cinema privilegiam esta concepção de herói. Se ele ou ela viverem uma vida de privação e dificuldades, serão bem vindos (Matrix, Homem Aranha, Tarzan). Mas se forem ricos e abastados também serão heróis (Batman ou Lara Croft). O eleitor norte americano tem em mente uma cadeia de idéias que lhe auxilia a formar uma visão de mundo e aferir a ela um valor. Se estas cadeias forem partilhadas por muita gente que as transmite uns aos outros através de algumas historias, temos os mitos e as crenças daquela cultura.

Um eleitor também se vale deste mecanismo para escolher, ele busca o candidato que melhor veste suas projeções. Se assim for ele se identificará com o candidato. Um dramaturgo inglês já nos disse que somos feitos da mesma matéria da qual são feitos os sonhos. Mas quais são os sonhos dos eleitores neste momento?

É interessante se observarmos como este aspecto está presente nas subidas e descidas das pesquisas dos candidatos democratas. Hillary aumentou o numero de mulheres que votariam nela quando em um momento de seu discurso se emocionou e quase chorou. Perdeu eleitores homens quando ficou com a voz embargada. Em um momento seguinte, quando ela vestiu uma postura dura e assertiva, ganhou homens e perdeu eleitoras.

Obama por sua vez trás para a cena política o mesmo que aconteceu durante muitos anos no cinema norte-americano. Não existiam papeis principais para atores negros. Se ele fala diretamente para os negros, perde os eleitores brancos. Já há quem pergunte se ele é negro o suficiente para sustentar uma posição clara para com os negos. Por outro lado, naquele país, há um enorme numero de eleitores brancos. No Brasil, por exemplo, há quem diga que nos esquecemos de que Pelé é negro, se considerarmos o modo como ele fala, transita e aspira o mundo dos brancos.

Obama diz que os EUA têm finalmente um candidato verdadeiramente democrata, usa para isso algumas passagens de sua vida. “Sou filho de uma mulher branca, meu pai nasceu no Quênia e nos deixou quando eu tinha dois anos. Meu padrasto era da Indonésia. Morei em Java e aprendi a falar javanês”. Além de ter uma carreira brilhante, Obama é alguém que veste bem as aspirações e os desejos dos eleitores, favorecendo a identificação deles para com ele. Ele é a síntese multicultural. Obama sabe transitar em vários mundos. Mesmo que para MacCain ele seja alguém que tem estilo mas lhe falta substancia.
Mulheres e Negros foram desprestigiados durante séculos naquele país. Portanto, este aspecto serve bem aos propósitos dos pensamentos de cidadãos comuns que desejam verem-se num ou noutro candidato, usando-os fantasiosamente para sentirem melhor frente as suas aspirações de ascensão social. Com Cinderela foi assim, a bondade e a retidão de caráter lhe valeram uma fada madrinha e um príncipe salvador.

Obama já foi valorizado por seu caráter e por seus valores morais. O lhe valeu uma indicação do jornal inglês New Statesman (2005), como uma das dez pessoas que poderia mudar o mundo. Quando escreveu Audácia e esperança, Obama, resgata o sonho daqueles que buscam ter seus sonhos realizados.

Mesmo que isto não corresponda à vida pregressa dos candidatos, eles também são o que um eleitor quer neles ver. Hillary por exemplo, vem de uma família conservadora e republicana. No passado ela fez campanha para Barry Goldwater. Em Arkansas foi homenageada como a mãe do ano. Mas há quem se refira aos Clintons como aqueles que abusaram do “pardon power”, quando estiveram em 1980 no governo de Arkansas.. Comenta-se que os Clintons comercializaram a presidência dos EUA, distintamente do que fez Truman.

Hillary e Obama alem de candidatos à presidência dos EUA, também são representantes de dois mitos que se fazem parte do ideário da cultura norte americana contemporânea. Enquanto Hillary se aproxima de Hera, a esposa de Zeus, Obama, se parece com Hermes, filho de Zeus, o irmão mais novo de Apolo.

Quando se comove, Hillary abre mão de Hera e se mostra como Helena, a feminilidade que desapareceu da cultura norte-americana retorna através da comoção de uma mulher. Se Hillary expande Hera, suas eleitoras reivindicam a presença de Helena. Enquanto Zeus vivia seu deleite com varias mulheres, Hera se mostrava vingativa e ciumenta as infidelidades do marido. Foi com Hercules que ela se fez conhecer. Filho bastardo de Zeus, ele teve de realizar doze trabalhos duros prescritos por ela.

Considerada a deusa mais importante do panteão grego, Hera teve um esposo que adorava mulheres. Mitólogos apontam que uma das celebres conversas entre Zeus e Hera tratou do propósito e dos prazeres do amor. Hera dizia que os homens sentiam esse prazer mais intensamente do que as mulheres. Zeus afirmava o contrario. Conta-se que para resolver esse impasse Hera e Zeus foram perguntar a Tirésias. Este ultimo, afirmou que as mulheres vivem mais intensamente tais prazeres. Depois disto, Hera o deixou cego.
Sabe-se que os Clintons contrataram os investigadores Terry Lenzner, Jack Palladino e Anthony Pellicano para pressionarem Gennifer Flowers, Monica Lewinsky and Kathleen Willey e fazê-las afastarem-se de Bill.

Obama tem retirado eleitores de Hillary como fez Hermes com as ovelhas de Apolo. Hermes demonstrou grande solicitude para com os rebanhos e seu crescimento. Enquanto um deus mensageiro, Zeus se referia a ele dizendo que percebia quão agradável era para Hermes ser o companheiro dos homens, pois estimava a todos.

Um jornalista norte-americano que apóia Obama se refere a ele dizendo que ele é alguém que é o que parece ser. Conhecido também como Mercúrio, Hermes é considerado o protetor dos viajantes, é o deus das estradas que conhece os caminhos. Ele portanto, não se perderia nelas. Obama tem sido considerado como alguém que tem autoridade moral, alguém que é normalmente extrovertido e geralmente meditativo. Tem uma visão do passado, presente e futuro, mostra-se como um jovem eterno. Se tomarmos Hermes como eixo em torno do qual o imaginário dos eleitores vêem Obama, isto se deve a sua capacidade de compreender significantes e significados, bem como de expressar idéias com clareza e amizade.
Em uma entrevista em 2004, Obama disse que seu nome Barack tem origem na palavra Baruch (hebraico), cujo significado é bendito. Em 2006 destacou como valor, a diversidade de sua família. Bendito e pluralizado são dois aspectos que funcionam bem para a imaginação do eleitorado.

O desafio de Hillary é o de se aproximar de Helena, filha de Zeus, mulher mais bela do mundo, sem que isso a torne uma replica da antiga dona de casa. O de Obama é fazer-se perceber consistente para os conservadores que o vêem como um jovem aspirante. Com Hera, Hillary se aproxima do mundo dos homens, mas cai quando pensa que deve ser melhor do que eles.
Os bilhões de dólares que estão sendo gastos nestas campanhas, poderiam estar sendo usados para resolver parte dos problemas apontados por cada um dos candidatos. Mas se assim for eles não se elegeriam. As coisas não são tão simples assim. A vaidade e a ambição, o poder e o prestigio que este cargo carrega o torna um tesouro no centro desta cultura que privilegia o individualismo neoliberal e o narcisismo a qualquer preço. Democratas e republicanos não são tão diferentes assim, a imagem que cada um apresenta é o que os tornam diferentes uns dos outros. Uma imagem que o vento não levou.







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