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sábado, 4 de julho de 2009

O Homem Light

Sócrates A. Nolasco

Em nossa primeira sessão, Teo falou-me sobre seu sentimento de insatisfação e em como pensava resolve-lo. Casado, pai de um casal de filhos temia as conseqüências das ações que tomaria. Receava por seus filhos, sua esposa, mas, sobretudo em deixar para trás o que havia construído com aquelas pessoas.

Sentia-se insatisfeito na relação que mantinha com sua mulher. Dizia: "estamos juntos há muito tempo, ela é uma mulher muito exigente". Quando contava sua história referia-se a uma sensação de tempo perdido que desejava resgatar a qualquer custo. Sentia-se preso e condenado a viver dentro desta situação.

Contou-me que durante seu casamento namorou outras mulheres porque assim sentia-se livre. Com todas elas assumia o papel do credor ávido e controlador.

Por alguns instantes viu-se diante de tensões provocadas por julgamentos morais, mas dissipou a todas ao constatar que seus amigos e namoradas adotavam o mesmo procedimento, protocolo de época.

Dentre suas amantes encontravam-se mulheres casadas, que assim como ele procurava resolver suas dificuldades conjugais com amadores.

Seus romances extraconjugais não o deixavam culpado, sentia-se apenas descontente. Teo desconhecia as razões de sua insatisfação, via-se continuamente compelido a agir para tentar escapar do incomodo. Quando se divertia, percebia que seu desagrado se atenuava, mas depois retornava com mais força.

Separou-se de sua mulher com intuito de fazer desaparecer aquele mal-estar, contudo isto não ocorreu. Ele reconhecia como uma restrição à sua liberdade pessoal o longo tempo de permanência dentro deste casamento e as exigências de compromisso feitos pela companheira.

Por sua vez, seu isolamento me chamou atenção. Apesar de ser uma pessoa sociável, ele não se sentia à vontade para falar de sua separação com seus amigos. Suas dúvidas ficavam guardadas com ele. Temia ser visto como fraco.

Frente às tensões deste momento, Teo agia como um atleta. Passou a trabalhar doze horas por dia, sair toda noite e viajar nos finais de semana. Dizia: “me sinto renovado, preciso resgatar o tempo perdido”.

Qualquer mulher que passava diante dele era vista como uma namorada em potencial. Ao olhá-la, comentava com quem quer que seja: “ah, gostosa!”. E complementava: “eu jamais conseguiria viver em uma cidade que não tivesse academia de ginástica e shopping center, ambos transformam mulheres em deusas".

Negava o sofrimento que a separação lhe causava assentando sobre seu rosto um sorriso virtual. Interpretava o mundo como lhe convinha, então, atribuía o fracasso de seu casamento as atitudes de sua ex-mulher, a derrota do fluminense ou ao 11 de setembro. Em sua vida tudo passou a ser aceitável, possível e sem limites. Isto o fazia sentir-se livre.

Quando eu lhe propus pensar sobre todo aquele triathlon social ele reagiu dizendo: "tudo o que eu faço me dá muito prazer, esta excitação não me faz mal algum”.

Minha proposta soava como uma restrição a sua liberdade. Teo pertencia à geração do proibido proibir. Apesar disto, o que considerava violento era pensar sobre si mesmo. “O pensamento limita”, dizia ele.

Lembrando um psiquiatra espanhol, Teo poderia ser considerado um homem light. Um produto de seu tempo. Uma época em que a comida não tem calorias, o café não tem cafeína, a manteiga não tem gordura, o açúcar não tem glicose e o homem não tem substância e conteúdo. Ele passou a viver do gozo sem restrições entorpecido pelo poder e dinheiro.

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