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quinta-feira, 2 de julho de 2009

A criminalização de Israel.

Sócrates A. Nolasco.

As guerras dão testemunho de que todo poder é triste. Mas, seria possível reinar inocentemente?
Lendo as seções de cartas dos leitores de importantes jornais brasileiros e estrangeiros, publicadas recentemente, durante os dias de conflito que envolveu israelenses e palestinos, percebi que muitas pessoas acreditam que Israel não estaria respondendo a uma serie de ataques realizados pelo Hamas, mas se excedendo no uso de suas forças militares, matando pessoas inocentes. De algum modo, à Palestina é percebida como a vitima da vez. Parte da opinião publica acredita que é possível governar inocentemente.

A estas cartas se somavam varias imagens disponibilizadas na internet e em outras mídias, que privilegiavam os ataques israelenses sobre os palestinos, nas quais homens e mulheres desesperados mostravam-se em situação de abandono gerado por terceiros. Para eles o mal vem de fora da Palestina. Pelo tom parcial presente em cada uma das cartas, perguntei-me o que dentro de cada um dos leitores estaria promovendo a visão de que Israel é o vilão desta guerra. Se Israel quisesse alvejar a população como diziam as cartas, teriam morrido mais de 100 000 pessoas, haja vista que em Gaza existe uma das maiores concentrações humanas do mundo. O esforço realizado era para que isso não acontecesse, como foi constatado.

A participação de todos é necessária para que uma cultura da convivência se estabeleça. Todavia, por que não havia cartas sobre os conflitos no Sudão, na Somália, em Darfur ou na Nigéria, onde milhares de pessoas foram e são assassinadas em guerras étnicas. Ou ainda, por que não havia cartas falando sobre a quantidade de homens que morrem no Brasil por causas externas? Se a questão for números, as estatísticas sobre mortes violentas aqui, são assustadoras. Mas me parece que a questão não são os números. E se não são os números, o que torna a opinião publica um juiz inquieto a procura de justiça?

O argumento que condena as posições defensivas tomadas pelos israelenses, não considera os 10 mil judeus mortos por soldados árabes na época da criação de Israel. Quando o Estado foi criado, os que imigraram para lá, haviam saído dos campos de concentração, não tinham exércitos ou armas para defender-se. Poucas cartas foram escritas sobre isso. Naquela época, a opinião publica européia não se mostrou indignada, mas ela também não havia se posicionado quando os nazistas disseram no Artigo IV, de Nuremberg, que os judeus não eram cidadãos, não tinham direito a trabalhar, nem a ter propriedade, estimulando um boicote maciço a todas atividades desenvolvidas por eles. Em 1938, na conhecida Noite dos Cristais, as escolas judaicas foram fechadas.

As opiniões de intelectuais revisionistas e negacionistas que rejeitam a existência do estado de Israel, têm surtido efeito pois vemos seus ecos chegarem até a opinião publica brasileira. Para escalar, o ódio depende da paixão que emerge de visões de mundo simplistas e parciais. Sabemos que é mais fácil para um homem vencer obstáculos naturais do que dominar a si mesmo, pois vivemos a mercê de nossas próprias paixões. Não significa que as paixões sejam ruins, mas devemos considerar que podemos usá-las mal ou em excesso.

Criminalizar é um dizer apaixonado sobre o mundo. Um dizer que tem mais a ver com o estado emocional de quem fala, do que com o que com a dinâmica dos fatos. Nas sociedades de hoje, descriminalizar é considerado um parâmetro norteador, articulado ao tema do aborto e das drogas. Sob a rubrica da liberdade individual e da dignidade humana, o novo presidente dos EUA apóia a descriminalização do aborto sustentando o argumento de que as mulheres têm o direito de se autodeterminarem. A moral conservadora se opõe a esta idéia, bem como, muitos fundamentalistas.

A opinião publica parece não ver malvadeza nas atitudes do Hamas quando este usa suas crianças e mulheres como escudos e agentes que carregam explosivos no corpo. Ou ainda, quando convocam os mulçumanos através de diferentes mídias do mundo a matarem os judeus. Eu não sei se a opinião publica se lembra do que aconteceu no ano de 1967, no Egito. Juntamente com a Síria e a Jordânia, leis contra os judeus residentes naqueles paises seguiram as mesmas diretrizes das prescritas em Nuremberg. Foi à vez dos mulçumanos expulsarem os judeus que viviam nestes paises, impedindo-os de trabalhar.

O Estado de Israel foi e continua sendo construído com luta e trabalho. Seis milhões de judeus foram mortos antes da sua criação. As negociações com a Inglaterra que se mostrou ávida por adquirir tecnologia para explosão, sinaliza que o estado foi conquistado, não foi dado de mãos beijadas. Não adiantaria dizer: Israel já! Para que o estado se fizesse, esta visão paradisíaca que se alimenta de um único sacrifício só é possível dentro de uma visão ingênua sobre a vida e a natureza humana. A opinião publica que reivindica justiça com parcialidade, o faz porque se identifica com a idéia de que existe um mundo pleno em satisfação, pronto em prazeres e no qual se tem acesso através de um único sacrifício sendo para isto necessário ser uma vitima expiatória. Tal fé precisa de um vilão. A crença de que um novo mundo é possível sem trabalho promove uma fé ingênua de que se explodindo, conquista-se o paraíso.

Se considerarmos os dias de holocausto e o que aconteceu com os judeus ao longo dos séculos, a Historia ensinou que é necessário saber defender-se para continuar vivo. Isto foi o que aprenderam os netos daqueles que foram assassinados pelos nazistas. Talvez a opinião publica pudesse pensar mais a respeito, evitando o impulso de criminalizar Israel.

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