Bem vindo a este espaço de troca e reflexão de ideias.

O QUE SENTIMOS PODE SER FALADO.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

OS FILHOS DE HOMER SIMPSON

- As pessoas que foram golpeadas estavam sentadas à mesa do lado. Tudo foi muito rápido. Quando eu olhei tinha um cara caído no chão e outros três chutando seu rosto. As luzes da boate se acenderam. Eu fiquei impressionado com o ódio estampado na cara daqueles sujeitos.

Teo ficou mobilizado com o incidente de sábado. O silencio se instalou durante a sessão. Toda aquela violência havia chegado até nós buscando algum sentido.

O espanto foi se desfazendo e lentamente foi possível chegarmos até onde a intensidade daquele ódio havia lhe tocado. Ele experimentou algo semelhante quando criança. Tinha dois anos e comia como uma pessoa daquela idade. Órfão e desempregado, seu pai não o compreendia e partiu para cima de Teo dizendo que este estava lhe desobedecendo porque comia daquele jeito. A mãe e a avó se interpuseram entre Teo e seu pai, mas não conseguiram evitar que ele lhe desse uma surra. Neste caso, a criança foi espancada mesmo.

Teo só se lembra dos olhos arregalados do pai, os mesmos olhos que reencontrou naquele sábado. De onde vem todo este ódio?

Diferente do pai de Teo, os pais daqueles homens jovens os apoiaram, eximindo-os de qualquer responsabilidade sobre o ato. Podemos pensar se o ódio dirigido ao outro não é um modo de se livrar do ódio por si mesmo. Qual seria o dilema daquele que se odeia tanto a ponto de transbordar sobre um outro? Talvez a atitude dos pais nos dê uma pista. Tendo piedade dos filhos revelaram que foram negligentes quanto as reais demandas afetivas (limites e compromisso) necessárias à formação do caráter. Esta postura indulgente da família mantém estes homens impotentes na vida e o ódio que sentem funciona como um tônico para vivificá-los.

Possivelmente durante anos sentiram-se como a Criatura dos pais. Hesitantes não puderam propalar a raiva e a solidão que emergiram desta condição. A violência destruidora dirigida à vítima é aquela que não pode ser dirigida aos pais. Sabemos que é impossível odiar nesta intensidade alguém que conhecemos, mas, arrasar a vítima é retratar o diâmetro do próprio aniquilamento. Só destrói quem já se encontra arruinado.

Para os agressores, uma das vantagens deste mundo é poder odiar e ser odiado sem se conhecer. Contudo, odeia-se quem se teme. O tamanho da violência empregada pelos agressores é proporcional ao quanto à vítima lhes atemorizam. Mas por que ela lhes intimida? Porque eles se identificam com ela, saibam: antipatias violentas quase sempre são suspeitas e traem afinidades secretas.

Se Teo fosse o agente poderíamos dizer que de vítima ele se transformou em agressor. Mas ele fez um caminho muito diferente.
Quando foram condescendentes com a atitude dos agressores os pais revelaram o delito que praticaram contra seus filhos: o filicidio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário