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terça-feira, 6 de setembro de 2011

A PATERNIDADE NO SÉCULO XXI.


Papai sabe tudo (Father knows best) foi o nome do seriado que estreou na televisão em 1954, e que permaneceu no ar até 1960. Um pai querido, sua esposa e três filhos, dialogavam sobre temas cotidianos. Nesta mesma época, um outro seriado chamado Make room for daddy, se popularizou por usar como argumento um pai que tentava encontrar mais espaço no ambiente familiar. Ambas as séries, tratavam com humor temas pertinentes aos valores daquela época.

Trinta anos se passaram, e uma nova sitcom estreou na televisão. Em 1989, Os Simpsons compunham o retrato de uma família cujas agruras eram resolvidas preponderantemente, pela mãe. Dela também faziam parte, três filhos e um pai desacreditado, bonachão e equivocado.

Do Papai sabe tudo até Homer Simpson, a paternidade passou por mudanças significativas em sua concepção, consolidadas pelas inovações no campo da reprodução assistida e as reivindicações dos homens pela guarda dos filhos. Ao longo dos anos, o pai deixa de ser o ator principal e é substituído pela mãe. Como poderíamos entender estas modificações e que impactos elas teriam sobre as novas gerações?

Muitos tem usado a denominação crise para falar destas alterações,  eventualmente até de um colapso masculino. Depositar o conflito sobre os homens, é parte da estratégia de uma sociedade que precisa segregar para avançar. Por conta disto, a paternidade ficou infantilizada, banalizada ou associada a maternidade. A palavra “pãe”, usada para se referir a homens que cuidam dos filhos, é exemplo disto. Em apenas trinta anos, a paternidade moveu-se de uma posição positiva para uma negativa. Foi criado um manual de boas maneiras para os homens, através do qual eles aprendem como devem se comportar diante dos filhos e da mulher.

Há quem pense que o movimento de mulheres tenha provocado este deslocamento. Todavia, a desvalorização da paternidade tem menos a ver com o movimento de mulheres, do que com as mudanças ocorridas nas bases da reprodução humana. Considerar os homens como inimigos, como dizia Simone de Beauvoir, certamente contribuiu para a desqualificação da paternidade e a invenção de Homer Simpson.

Fora destes seriados, temer o pai fazia parte do papel do filho. As mães inclusive, se valiam disto para que a criança fizesse o que elas queriam: “vou falar com seu pai.” Distante, o pai deveria ser exemplo de um adulto seguro e parcimoniosamente afetivo. Os homens acreditavam que deviam seguir este protocolo, tomando-o como verdade. Todavia, a paternidade transcende a dimensão individual pois situa cada indivíduo em um eixo geracional.

A partir dos anos 60, a imagem paterna começa a ser relativizada. De durões eles são transformados em bobões. A mudança pela qual passou a paternidade teve por base, inicialmente o afastamento do sexo da reprodução, e posteriormente a invenção da reprodução sem sexo. Nesta segunda, precisa-se apenas do sêmen e de um médico. O homem deixa de ser o pai. Nos Estados Unidos, uma mulher que resolve ter um filho, vai a um banco de sêmen e na certidão de nascimento da criança, onde deveria constar o nome do pai, lê-se: D.I.  (donor insemination / inseminação artificial). 

Liberar o sexo da reprodução, fez com que o prazer sexual surgisse como uma experiência libertária. Mas também foi uma etapa necessária para que a reprodução acontecesse fora do corpo, sem sexo, e com a eliminação da paternidade. Nesta perspectiva, teremos uma geração de crianças sem pai, e segundo o dito canadense: père manquant, fils manque, que quer dizer: quando o pai falta, o filho manca. 

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