Papai
sabe tudo (Father knows best) foi o
nome do seriado que estreou na televisão em 1954, e que permaneceu no ar até
1960. Um pai querido, sua esposa e três filhos, dialogavam sobre temas cotidianos.
Nesta mesma época, um outro seriado chamado Make
room for daddy, se popularizou por usar como argumento um pai que tentava
encontrar mais espaço no ambiente familiar. Ambas as séries, tratavam com humor
temas pertinentes aos valores daquela época.
Trinta
anos se passaram, e uma nova sitcom estreou
na televisão. Em 1989, Os Simpsons compunham o retrato de uma família cujas agruras
eram resolvidas preponderantemente, pela mãe. Dela também faziam parte, três
filhos e um pai desacreditado, bonachão e equivocado.
Do
Papai sabe tudo até Homer Simpson, a paternidade passou por mudanças
significativas em sua concepção, consolidadas pelas inovações no campo da
reprodução assistida e as reivindicações dos homens pela guarda dos filhos. Ao
longo dos anos, o pai deixa de ser o ator principal e é substituído pela mãe. Como
poderíamos entender estas modificações e que impactos elas teriam sobre as novas
gerações?
Muitos
tem usado a denominação crise para falar destas alterações, eventualmente até de um colapso
masculino. Depositar o conflito sobre os homens, é parte da estratégia de uma
sociedade que precisa segregar para avançar. Por conta disto, a paternidade
ficou infantilizada, banalizada ou associada a maternidade. A palavra “pãe”,
usada para se referir a homens que cuidam dos filhos, é exemplo disto. Em
apenas trinta anos, a paternidade moveu-se de uma posição positiva para uma
negativa. Foi criado um manual de boas maneiras para os homens, através do qual
eles aprendem como devem se comportar diante dos filhos e da mulher.
Há quem
pense que o movimento de mulheres tenha provocado este deslocamento. Todavia, a
desvalorização da paternidade tem menos a ver com o movimento de mulheres, do
que com as mudanças ocorridas nas bases da reprodução humana. Considerar os
homens como inimigos, como dizia Simone de Beauvoir, certamente contribuiu para
a desqualificação da paternidade e a invenção de Homer Simpson.
Fora
destes seriados, temer o pai fazia parte do papel do filho. As mães inclusive, se
valiam disto para que a criança fizesse o que elas queriam: “vou falar com seu
pai.” Distante, o pai deveria ser exemplo de um adulto seguro e parcimoniosamente
afetivo. Os homens acreditavam que deviam seguir este protocolo, tomando-o como
verdade. Todavia, a paternidade transcende a dimensão individual pois situa cada
indivíduo em um eixo geracional.
A
partir dos anos 60, a imagem paterna começa a ser relativizada. De durões eles
são transformados em bobões. A mudança pela qual passou a paternidade teve por
base, inicialmente o afastamento do sexo da reprodução, e posteriormente a invenção
da reprodução sem sexo. Nesta segunda, precisa-se apenas do sêmen e de um médico.
O homem deixa de ser o pai. Nos Estados Unidos, uma mulher que resolve ter um
filho, vai a um banco de sêmen e na certidão de nascimento da criança, onde
deveria constar o nome do pai, lê-se: D.I. (donor insemination
/ inseminação artificial).
Liberar
o sexo da reprodução, fez com que o prazer sexual surgisse como uma experiência
libertária. Mas também foi uma etapa necessária para que a reprodução acontecesse
fora do corpo, sem sexo, e com a eliminação da paternidade. Nesta perspectiva,
teremos uma geração de crianças sem pai, e segundo o dito canadense: père manquant, fils manque, que quer
dizer: quando o pai falta, o filho manca.
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