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sábado, 28 de novembro de 2009

AMIZADE.

Meu irmão e brother eram denominações usuais nas falas de Teo. Quando as utilizava queria me mostrar que o amigo em questão era importante para ele e se diferenciava dos demais. Alguém confiável e disponível a qualquer hora.

- Colega é uma coisa, amigo é outra! Jogo bola com muita gente que não conheço, não dá para considerar todo mundo amigo.
Concordei com ele e lhe perguntei que amigo vinha acompanhando o final de seu casamento.

- Nenhum, respondeu.

- E com quem você fala sobre seus sentimentos de medo e insegurança?
Silêncio.

Percebi que brother era um nome que Teo empregava para diferenciar um colega de outro, expressão de um desejo de que alguém ocupasse este lugar. Quando usava esta qualificação estava se referindo a um vínculo definido pelo número de vezes que fazia alguma coisa com alguém quer seja; ir ao Maracanã, assistir campeonatos pela tv ou jogar sinuca. Brother não era sinônimo de alguém com quem se mantém uma relação de intimidade, mas um código que o retirava da solidão através da fé de que existe alguém igual a si mesmo.

Intimidade para Teo era algo para ser vivido com uma mulher, não era sinônimo de amizade, mas de relação sexual. Portanto, não poderia ser intimo de um amigo e correr o risco de ser taxado de gay.

Por ora, o gay reconhecido por sua sensibilidade, delicadeza e extrofia reforçam esta mesma tese, fazendo com que a relação de intimidade seja uma exclusividade daquela vivida com um parceiro. Os gays realizam o que os heteros temem. Contudo, ambos demonstram o quanto é difícil para um homem estabelecer com outro homem uma relação de intimidade que não passe pela cama quer seja como desejo ou fobia. A cama parece ser o destino de todo homem, não importa com quem ele se deite.

Teo me contou histórias em que amigos traíam seus brothers tornando-se amantes de suas mulheres. Contou-me também que conhecia alguns gays que ao perceberem o interesse e o carinho de um homem por outro imediatamente o taxavam de um covarde que não saia do armário.

- Mas afinal, se um heterossexual pode ser um homossexual enrustido, por que um homossexual não pode ser um heterossexual que não sai do armário? Perguntou Teo.

O que faz com que o sexo assuma um lugar central na vida de um homem, disciplinando-o a olhar para qualquer mulher que passa diante de seus olhos, não foi sua necessidade de amar, mas de provar para si mesmo que ele é um homem. O sexo vem sendo utilizado para abarcar a excitação gerada pela dúvida sobre quem ele seja, uma descoberta que sobre a qual seu desejo não lhe dá garantias. Dom Juan perguntou para a primeira mulher com quem se deitou: quem você quer que eu seja?

Muitos homens não conseguem admitir o impacto que esta pergunta causa sobre si quanto ela é conduzida por seus desejos. Para escapar do transtorno desta situação se dizem rapidamente: “eu sou hetero, eu sou homo, eu sou bissexual”.

Posto desta forma, a excitação não cessa, e o desconforto gerado por ela faz com que as práticas sexuais assumam um lugar de destaque na vida dos homens.

- Faço sexo com homens, disse Santos, mas não me envolvo com nenhum deles. Isto eu faço com uma mulher. Eu quero o prazer, não quero nenhum tipo de envolvimento.

Para evitar manter em si uma pergunta sem resposta, os homens usam o sexo. Contudo, é exatamente por não tê-las que podemos chegar o mais perto possível de nós mesmos. Definir a pergunta a partir do que deva ser a resposta não faz de ninguém um homem, mas o transforma em uma cópia de uma matriz que se perdeu e da qual não se sabe a origem.

- Os homens nascem com mais desejos sexuais do que as mulheres. Eu sempre soube disto!

Desde o nascimento paira sobre um homem a dúvida: você é ou não é homem? O sexo foi um dispositivo eficiente para isto. Alguns não suportam o desconforto causado por esta incerteza, nem reconhecem o quanto sua história pessoal tem a ver com esta hesitação. A incapacidade para formar vínculos firmes, profundos e duradouros faz com que muitos homens tomem a opção sexual como um parâmetro para sufocar a vida que pulsa neste embaraço. O sexo desembaraça uma parte de nós, mas não tudo o de nós existe. Sabemos muito pouco sobre isto. Neste caso a opção sexual se tornou à certeza de que a desconfiança foi resolvida.

Posto desta maneira a amizade entre homens é terra de ninguém. Haja vista, que o amor entre homens nasce antes mesmo que a marca sexual se imponha. Admitir que se ama outro homem significa experimentar ameaças anteriores a este momento, um tempo em que não existiam definições. E isto é o mesmo que por em risco tudo aquilo que aprendeu sobre si mesmo, independente da orientação sexual, etnia ou classe social.

Amar outro homem é vê-lo como uma possibilidade para si da qual se abriu mão, confirmando o caráter acidental da vida e do sexo segundo o qual nascemos. A marca sexual nos atravessa desde o nascimento e se impõe como um acidente que tantas vezes tentamos driblar, sob o argumento de que nossos desejos são absolutos e nos fazem crer que podemos ser o que eles arbitram: homens ou mulheres. Se admitirmos que é impossível vencer a morte, talvez transformemos nossa impossibilidade de amar, pois o amor quando usado como força de superação ou busca da plenitude fica refém do inviável.

Desde menino, um homem aprende que, se vencedor, superará a morte, sem se dar conta que esta tarefa atrofiará sua capacidade de amar. Resta a este homem organizar sua vida em torno do sexo porque somente o gozo para lhe dar a sensação de que venceu a morte, mesmo que ilusoriamente e por segundos.

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